07 setembro 2009

IDADE MÉDIA

Passou a princesa ao meu lado, passo fino, coisa elegante, tinha nos olhos a clara e o brilho dos diamantes. Senti tristeza na pele. Senti clausura na alma. Perguntei, aonde vais??? Respondi, tenho tédio. Insisti, vais sozinha??? Entendi, itinerante. Ignorando a vestimenta, que se fazia luz reluzente, tive a sina do aventureiro, e a honra do vil amante. Deixei-a de lado, num canto, suspiro em lugar de um pranto, segui pleno e reticente, segui do meu lado, intermitente.

Passou o vizir ao meu lado, passo curto, sombrio, calado, tinha nas mãos uma adaga, e no peito uma cruz cravada. Senti fraqueza instantânea, eminente. Senti a morte do ser, que se vai mais que doente. Perguntei, aonde vais??? Respondi, tenho ódio. Insisti, vais sozinho??? Entendi, e quem mais cruzar meu caminho. Fechei os olhos de toda desgraça, que dominava o abutre e a caça, tive a graça de estar sozinho, e a crença do lugar do meu ninho. Segui-o até o portão, gritei pra chamar atenção, conclamei um alerta com a mão, segui do meu lado, são.

Passou o guerreiro ao meu lado, passo certo, destino pesado, carregava nos punhos sangria, alegria da festa, seu último dia. Senti o pesar dos lamentos, das grandes batalhas, esquecimentos. Senti a tortura das glórias, das decadências e das vitórias. Perguntei, aonde vais??? Respondi, vou além. Insisti, vais sozinho??? Entendi, eu e meu Deus que comigo venha, me tenha. Estufei-me em respeito, tive fé, exaltei. E depois de pagão me perdi, derramei. E de tudo que eu abençoei, se segui do meu lado??? Não sei.

Passou o carrasco ao meu lado, passo ignóbil, passo julgado, tinha na sombra o poente, esperança, porão cadente. Nada senti a não ser sentimento, nada falei, com seu consentimento. E sem tempo, e sem tento, lá se foi na penumbra, se perdeu na masmorra, encontrou coerência, de quem vê no machado, a derradeira clemência. Continuei do meu lado, parado.

Passou o Rei ao meu lado, passo presente, passo passado, baldrame de nobre, alicerce cansado. Senti o gosto do brinde, a esbórnia da vida, o vassalo e o trono, eu senti despedida. E da ponte caída, eu gritei perguntei, aonde vais meu senhor??? Respondi, meu senhor??? Insisti, vais sozinho??? Entendi, onde for vou também sou apenas um Rei, e você que é meu reino, e não sabe o que eu sei, e quer tudo que eu tenho, para um dia ser eu, pois saiba o que é meu, é o que tudo é seu, e o tudo que tudo que é seu, é muito mais que ser eu. Cai.

Passou o meu pai ao meu lado, tinha nos livros saudade, e na idade o conhecimento, nos erros maturidade, a ingenuidade do esquecimento. Levantei-me, ergui-me, fiquei de pé, senti o cheiro das matas e do café, das invernadas e do rapé. Perguntei, já sou??? Respondi, já sei. Insisti, serei??? Entendi, já é. Dormi.

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto denso... e cheio de texturas...aguçando os sentidos...combinou com Idade Média!
Sugere imagens dos fatos...tem final suspenso,trazendo a inconsciência numa queda direta no tempo: aqui agora.
Já era.Vou dormir.
Beijos

Anônimo disse...

Cestari querido,
Gostei muito da cor de fundo, mas estou com certa dificuldade em ler os textos. Retentarei, sim.
Não esqueça de enviar textos para o http://banga.zip.net
E sempre tem mais.
TEnho o que contar sobre um projeto cultural que inauguraremos em 8 de fevereiro - projeto MARABANGÁLIA.
Vamos nos falar por email, ya pues?
beijocas, bom dia,
Palena